O futebol como ferramenta de fortalecimento da autoestima feminina e do combate ao machismo
A Copa do Mundo Feminina terminou no último final de semana com números recordes de audiência e público, grandes jogos e sendo uma inspiração. Apesar da eliminação precoce da Seleção Brasileira, vimos muito engajamento de torcedores brasileiros, apaixonados pelo esporte e, é claro, atletas – inclusive da nova geração do futebol feminino. Agora, engana-se quem pensa que esse impacto se restringe aos gramados ou ao futebol fantástico apresentado pelas espanholas campeãs do mundo. A maior edição do torneio*, também reforçou pautas importantes como: igualdade entre gêneros, valorização da mulher no esporte e combate ao machismo. A própria Seleção campeã protagonizou casos polêmicos, como quando o técnico celebrou o título separado das jogadoras e quando o presidente da Federação Espanhola deu um beijo na boca de Jenni Hermoso – sem o seu consentimento. Luis Rubiales pediu desculpas pelo ocorrido, mas reacendeu o debate sobre assédio e desrespeito às mulheres.
O fato é que a Copa do Mundo aqueceu o futebol feminino nesta temporada, reforçou a sua grandeza e ainda ampliou a conversa sobre suas lutas e potências. A professora de Educação Física Natane Vicente, que jogou futebol profissionalmente e hoje também é treinadora**, acredita que os holofotes colaboram muito com a disseminação do esporte entre meninas e mulheres, além de ser um tema que pode (e deve) ser abordado dentro de sala de aula, seja sob a ótica cultural, esportiva, de alto rendimento ou até mesmo com recortes de classe e raça.
“O futebol feminino em foco ajuda na construção de referências de atletas, apresenta ídolas, constrói trajetórias que inspiram quem ainda está começando e é um grande serviço de combate ao machismo. Quanto mais consumimos futebol feminino, mais meninas se apaixonam pelo esporte”.
Quando refletimos sobre essas múltiplas possibilidades de abordagem, pensamos também em como o esporte pode ser uma ferramenta de fortalecimento da autoestima dessas mulheres. Para além da relação científica entre a prática esportiva e os resultados no corpo e na mente, há conquistas mais “subjetivas” quando tratamos o futebol como ferramenta da luta feminista.
É justamente a partir da observação desse fenômeno social que levantamos a bola, tomando a liberdade do uso deste jargão do futebol, sobre o uso do futebol feminino como tema ainda mais presente nos debates: nas salas de aula (como prática e/ou como acontecimento), nos estudos acadêmicos, nas conversas informais e também nas rodas de fomento ao empoderamento e combate à violência contra a mulher. Quando pensamos que a proibição do futebol feminino durou mais de 40 anos no Brasil***, entendemos o pano de fundo desses muitos desafios.
Para a publicitária Aline Santos, os valores do futebol podem ser aplicados em exercícios de autoconhecimento e autoestima de modo que, através da prática esportiva, mais mulheres possam conhecer suas habilidades (físicas e mentais), ampliando o seu poder de decisão.
“O esporte, em especial o futebol, faz parte da vida da maioria dos brasileiros e é consenso a sua relevância na sociedade – bem como seu poder transformador. Então, é super importante usar essa potência a nosso favor! Acredito que quanto mais a mulher se conhece, mais força ela tem para garantir sua emancipação e autonomia”.
Aline ainda destacou a consciência corporal adquirida com a prática e a consciência social garantida através da observação social do futebol. Ou seja, são apresentadas formas diferentes de chegarmos no mesmo ponto: avanços na pauta feminista. Assim, mais meninas poderão ser empoderadas e impactadas pelo universo esportivo.